26 dezembro 2007

Quando alguém é insubstituível

Borges de Barros, grande voz do humor (Folha de S. Paulo)

O mais engraçado dos velhinhos não se vestia de Papai Noel no Natal, nem mesmo para a família- "porque seria um Noel diferente; pelo humor e pela voz todo mundo saberia que era ele". A saraivada de piadas e pegadinhas, até com as crianças, fazia a diferença -ele apontava uma luz lá longe pela janela e deixava os filhos curiosos, debruçados no parapeito, enquanto trazia os presentes.O nome de batismo, Fileto Borges de Barros, em nada agradava o menino religioso nascido em Corumbá (MS) e formado em um colégio de padres -"uma espécie de coroinha", que chegou a dar aulas de catecismo às outras crianças.Após a morte do pai, a mãe veio com os cinco filhos para São Paulo. Barros foi estudar no liceu do Instituto de Ciências e Letras e trabalhar em uma fábrica de bonés. Ganhava uma miséria, mas era um garoto na cidade grande.Até que a moda do rádio pegou, sua voz se destacou entre as apresentações radiofônicas no liceu e ele acabou indicado para umas tais gravações -e um belo dia chegou em casa com o primeiro salário, uma verdadeira fortuna comparada ao que ganhava na fábrica. "Na nossa família ninguém ganha sem trabalhar, todo mundo é honesto", disse a mãe, assustada. Mas ela logo se acostumaria -se não com a fortuna, que nunca veio, ao menos com o sucesso na TV.Já no início dos anos 1940, Barros foi locutor de radionovelas. A voz que "era seu maior patrimônio" lhe garantiu também pontas de dublagem em novelas em filmes -"muitos atores não tinham voz para isso", dizia.Era dele o grito do "Tarzan" brasileiro, dos personagens Leôncio e Zeca Urubu no desenho "Pica-Pau", do Moe, de "Os Três Patetas", do Capitão Lord de "Titanic", do Pingüim da versão dos anos 60 de "Batman" -e de tantos outros heróis e vilões de cinema e TV. Foi até reconhecido por Jonathan Harris como o seu melhor dublador de Dr. Smith no seriado "Perdidos no Espaço". Mas ele era mais que uma bela voz. Seu humor seria logo reconhecido, quando atuou com Dercy Golçalves e Grande Othelo em "Se Meu Dólar Falasse". A partir daí, virou comediante de fato. Convidado por Manoel da Nóbrega, foi fazer na "Praça da Alegria" o mendigo milionário que se dizia amigo de políticos e celebridades e que o deixaria famoso por seu bordão "meu caro colega". O mesmo mendigo que levaria para "A Praça É Nossa", do filho de Manoel, Carlos Alberto da Nóbrega. Viveu na "Praça" décadas a fio. Sua última aparição foi exatamente no Natal do ano passado, quando foi um dos homenageados por Carlos Alberto da Nóbrega. Só ficava triste quando não tinha trabalho. "Vida de artista não é fácil", dizia. Mas, sempre que a situação apertava, lá ia ele com a sua voz fazer "bicos" em comerciais e novelas. Porque, como costumava frisar, "o artista era um escravo que trabalhava por amor à senzala".Mas nos últimos anos a visão piorou, e ele não mais enxergava as legendas dos filmes para dublagem. E estava doente. Sentado no aparelho de hemodiálise, em longas conversas com o filho, ele percebeu que tinha, há muito tempo, perdido a conta das mil vozes que deixara gravadas em seus mais de 60 anos de carreira. Morreu no dia 12 aos 84 anos, em São Paulo, de parada cardíaca, durante uma sessão de hemodiálise. Tinha dois filhos e três netos.
















15 dezembro 2007

tristeza

Após dois dias sob nossos cuidados, infelizmente o pequeno gaviãozinho não resisitiu.

14 dezembro 2007

novo hóspede


O André localizou este filhote caído provavelmente do ninho na chaminé da lareira na casa sede. Depois de pesquisarmos, concluímos que trata-se de um filhote de gavião-carijó (conforme ilustração da foto já adulto, com seu olhar assustador). Estamos alimentando-o e torcendo para que ele sobreviva fora das asas maternas.

13 dezembro 2007

bela visita


foto ilustrativa
"Antesdonti" apareceu um desses voando bem aqui ao lado da casa. Na hora tomei um susto. Pensei que era um pássaro com algo preso no bico. Mas numa fração de segundos percebi que se tratava mesmo era de um tucano. Nunca tínhamos visto um. Este era da espécie araçari, também conhecido como tucano-do-bico-verde. Chamei a Dé e o André para verem quando ele pousou numa árvore próxima da casa. Pura emoção.

25 novembro 2007

reminiscências - road movies

foto ilustrativa: Cuzco / Peru

Nesses 50 anos de andanças muita coisa vai ficando pra trás. Hoje em dia tornou-se inexoravelmente normal eu falar "há 20 anos, há 25 anos...". Mas essa aqui tem mais de 30: minha viagem pela América do Sul. Bolivia, Peru e depois Asunción del Paraguay. Quase como no "The Last Movie" de Dennis Hopper, uma verdadeira aventura aos 18 anos em terras forasteiras, em companhia de meu primo-brother Raulito. Cores, cheiros e gente totalmente diferente sob o idioma castelhano.
Cena 1: tudo começa no Mato Grosso tomando o trem transpantaneiro rumo a Corumbá. A belíssima fauna e a paisagem brazuca rumo ao desconhecido. Éramos autênticos mochileiros, portanto os dólares em cintos especiais com zíper internos escondendo o dinheiro - um estratagema anti-assaltos.
Cena 2: (rumo a Santa Cruz de La Sierra) 24hs no lendário trem da "morte". E numa parada, um mergulho num rio habitado por piranhas. Susto! Todo mundo correndo e verificando se nenhuma parte do corpo havia sido devorada...Eu pensava: "Já tenho histórias pra contar a meus netos".
Situações insólitas mas muito pitorescas se seguiam a cada "take". A Bolívia em Estado de Sítio e a gente nem aí. Malandros, índios e pobreza. Muita pobreza. A ponto de nos considerarmos yankees mesmo sendo brasileiros. O lago Titicaca, a Cordilheira e ruínas Incas. Muito frio combatido com goles de pisco. Tudo muito diferente do atual cenário na Era Evo Morales. Mal podia eu supor que muito mais seria vivido em minha odisséia européia. Mas isso fica pra outro cápítulo.

Imprensa, blogs e a guerra da informação

O proliferação dos blogs permitiu um acesso à informação jamais visto antes deste fenômeno surgir. Hoje qualquer pessoa - até este reles blogueiro que aqui martela o teclado - pode emitir suas opiniões e fazê-las chegar a um universo incalculável de leitores.
Porém, o que acredito ser o diferencial deste veículo, é a informação até então restrita nos bastidores do meios de comunicação em relação ao foco que fatos e notícias possam despertar na sociedade. O que quero dizer é que, muito embora existam blogs dos mais diversos assuntos (de comportamento a culinária, de esportes a cultura, de blogs pessoais a esoterismo, turismo, ciência, etc...) nada é mais importante do que os que tratam de política. Isto por que nenhum outro assunto possui um poder tão manipulador quanto os interesses que os meios de comunicação exercem sobre os leitores.
E nessa guerra de informação, os blogs tornaram-se trincheiras vitais a desmascarar fatos que seriam impossíveis de serem publicados ou veiculados na grande imprensa. Mesmo que um jornalista seja ideologicamente contra a linha editorial da empresa que o emprega (e neste ponto não sei se eu fosse jornalista como poderia viver em paz com minha consciência), ele é obrigado a se enquadrar senão é demitido.
Para quem acessa diariamente vários blogs, é fácil identificar uma guerra de informação e ideologia. De um lado estão jornalistas como Mino Carta, Paulo Henrique Amorim, Pedro Dória. Do outro, Reinaldo Azevedo, Olavo de Carvalho, Ricardo Noblat. Não sei se Arnaldo Jabor e Diogo Mainardi possuem blogs - que com certeza fariam parte deste segundo grupo - muito embora não precisem, já que cumprem à risca o papel a eles delegados pelas empresas para quem trabalham e recebem seus salários (Globo e Veja, respectivamente).
Mas há um jornalista que me chama a atenção pela coragem, embasamento e clareza com que escancara a manipulação dos pesos-pesados da informação (!?). Em seu site , Luiz Carlos Azenha desmascara muito dos bastidores da guerra da informação a que somos submetidos diariamente.
Não há como não ficar indignado ao supor que o que lemos/vemos é apenas notícia factual.
Os blogs vieram para ficar. Há quem diga inclusive que eles serão o futuro modelo do jornalismo eletrônico. Eclético e democrático. Levando a informação sem atalhos ou servindo a interesses corporativos das empresas de comunicação.

20 novembro 2007

princípos essencias

Como o brilhante jornalista Cláudio Abramo certa vez sintetizou, "O jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter". Não nego que calhordas como Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo sejam inteligentes. Já o caráter de ambos...

13 novembro 2007

Batismo II

André e o mar, o mar e André: prazer em conhecer.

Batismo

foto by Marcão
Local: Guarujá / SP
Data: 11/11/07
assunto: encontro histórico do André com o mar
facilitador: Marcão Lepper
supervisão: Iemanjá

Até quando?

Até quando será possível contemplarmos o vôo deslizante dos gaviões sob o límpedo céu azul-anil destas montanhas? Ou a sinfonia de pássaros em cada amanhecer? Os mergulhos precisos dos martim-pescadores ? A algazarra dos anus? O canto das juritis? O alegre cacarejo das galinhas d´agua? O balé dos vários tipos de beija-flores? Os sabiás roubando nossas amoras - mas compensando-nos com seu canto bucólico? As peripécias dos esquilos? As gargalhadas dos macacos saás? As aparições incautas dos cervinhos? Ou depararmo-nos com os passeios dos ouriços por entre a relva? Ou a surpreendente visita de uma preguiça? As investidas ousadas dos saruês? A rápida visão de um bando de guaxinins pela mata? O movimento sorrateiro das salamandras por entre as pedras? O susto ante a presença ameaçadora de temíveis jararácas e cascavéis - coisas muito menos amedrontande e nocivas quanto os males da grande cidade?
Ah... até quando meu Deus?
Até quando viveremos livres sem vizinho a nos cercar? Sem camisa e pé no chão? Vendo nossos cães e gatos felizes como uma linda família? E o Frederico, o papagaio, tagarela em seus dias inspirados? Nos cansarmos mas felizes e realizados com tarefas rurais ? Chegando carregados com pesados cachos de bananas 100% isentas de químicos? Ou jaboticabas em abundância? As amoreiras apinhadas de frutos? E consumindo o mais puro mel mas matas? Beber a mais pura água que brota da terra?
Vivendo no silêncio somente invadido pelo ruído das águas? Admirando a beleza das chuvas tão bem vindas? Tomando surra de água na cachoeira? Vendo o céu coalhado de estrelas? E luares iluminando o breu da mata? Ou o majestoso sol minguando, morrendo em diferentes tonalidades nas tardes de outono? A festa das flores quando rompe a primavera, entre magnólias, primaveras e ipês-amarelos? As noites quentes de verões mais que bem vindos? Até quando sentiremos a brisa serena deste clima serrano? Ou as frias manhãs de invernos indesejáveis, mas ainda assim, parte inexorável de nosso ciclo sazonal? Ouvir o vento na dança envolvente das ramagens das árvores...Até quando?
Até quando sentiremos os vários aromas ao caminhar pelo mato silvestre desta paisagem? A visão imponente da vegetação à nossa volta ? Até quando? Até quando? Até quando?

Receio não querer saber esta resposta. Que Deus abençoe nosso desejo de aqui permanecer. Se assim for para o nosso bem. Amém!

Era uma vez...

...um homem que batera à porta de uma casa. Era a casa de um médico, desses que exercia a profissão quase como um sacerdócio. Ao abrir a porta, o médico pergunta ao homem: "Pois não, em que posso lhe ajudar?". O homem, muito abatido e com a expressão sofrida, olha para o médico e responde:"Eu preciso muito, muito mesmo de sua ajuda..."
Percebendo o grau de perturbação em que se encontrava o sujeito, o médico então convida-o para que entrasse em sua casa. Já sentados, o médico, de maneira solidária volta a perguntar: "E então meu amigo, como posso lhe ajudar?".
O homem demonstrando um terrível estado de dor, desaba:" Eu preciso...muito de uma palavra sua. Sou uma pessoa no limite de minha existência. Sem norte, sem caminho... não vejo mais sentido no viver."
Procurando entender a angústia por que passava o pobre homem, o médico passa a falar-lhe serenamente: " É... vejo que você não está nada bem. Mas olhe... eu...eu poderia lhe dizer várias coisas. Poderia aconselhá-lo de várias maneiras. Mas creio que possa haver uma outra forma de que isto seja feito. Nesta cidade há um circo se apresentando. E neste circo, há uma trupe de palhaços com números geniais. Um desses palhaços se destaca, fazendo uma performance extraordinária. Muito especial. Sublime. Tenho certeza que ao assistir sua apresentação, você verá algo que vai tocar profundamente sua alma e seu coração. Acredite em mim. Vá até este circo e assista a este palhaço. Tenho certeza que você sairá deste espetáculo um outro homem. E um novo sentido se fará presente em sua vida."
O homem que ouvia em silêncio e cabisbaixo à fala do médico, ergue a cabeça, olha-o e murmura resignando:"Mas senhor...eis aí o grande problema". "O quê ?", pergunta o médico.
Já com lágrimas nos olhos, o homem revela:" É que eu... eu sou aquele palhaço."

blue...


Hoje foi mais um dia daqueles. Chuva lá fora, tristeza aqui dentro. Revendo no computador inúmeras fotos de várias épocas, impossível não sentir aquele gosto amargo que a recente realidade está tratando de sentenciar. Uma nova e totalmente indesejável realidade.

Até quando ficaremos vivendo por aqui?

Simplesmente não consigo me imaginar noutro lugar e isto pode ser uma questão de semanas, quem sabe meses. Mas a perspectiva deste fim de trilha é assustadora. Uma ameaça de derrota a mais um sonho. Sonho este que corre o risco de ser carregado pelas curvas do rio que por aqui passa.

Uma trilha sonora silenciosa tratava de entoar sua melodia multitonal nos labirintos da minha cabeça. Poderia ser um blues na voz de Billie Holiday ou um solo de trumpete melancólico executado por Chet baker. A palavra "blue" em inglês é tão intraduzível quanto "saudade" em português. E ambas remetem a alma a um sentimento de extrema angústia . Ambas motivando um estado de aperto no peito como um nó que não desata.
Um abismo se precipita com consequências inimagináveis. Teremos que reunir forças para administrar algo que jamais julgávamos possível de que nos ocorresse. Mas será mesmo? O que será que será ? Será que neste interlúdio não haverá mesmo uma solução que contemple nosso mais profundo desejo - que é o de aqui permanecer?
Mesmo com os problemas inerentes que nos cercam por vivermos no meio do mato, ainda sim preferimos estes a termos que mudar tudo de novo. E ter de recomeçar do zero nossas trajetórias de vida.

João Pedro mal pode imaginar o quanto tenho que representar e sorrir para ele, que alheio ao que acontece à sua volta, apenas exercita sua ingenuidade de criança na aurora de sua vida.

enigma do peregrino


PROVERBIOS Y CANTARES - XXIX

Caminhante, são teus rastos

o caminho, e nada mais;

caminhante, não há caminho,

faz-se caminho ao andar.

Ao andar faz-se o caminho,

e ao olhar-se para trás

vê-se a senda que jamais

se há-de voltar a pisar.

Caminhante, não há caminho,

somente sulcos no mar.

Caminante, son tus huellas

el camino y nada más;

Caminante, no hay camino,

se hace camino al andar.

Al andar se hace el camino,

y al volver la vista atrás

se ve la senda que nunca

se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino

sino estelas en la mar.


Antonio Machado
(1875 - 1939)

India

fonte: uol (http://viagem.uol.com.br)

Terra santa: cinco religiões fazem da Índia um lugar místico e conflituoso

Quatro cadáveres queimam lentamente às margens do rio Ganges em Varanasi, a mais sagrada das cidades hindus. Abastecidas com madeira de sândalo, as fogueiras exalam um cheiro esquisito. Algo como incenso misturado a carne abrasada. Vestidos de branco, a cor do luto, familiares reúnem-se em volta de seus mortos. Não há lágrimas, muito menos desespero. Apenas uma relaxada expressão de desapego.Crianças, atrás de uma pipa, cruzam subitamente o crematório. Quase colidem com dois homens que, através da fumaça, descem em direção às fogueiras com mais um corpo sobre os ombros. Ambos são dalits, pessoas pertencentes à mais baixa casta da sociedade hindu, a quem se reserva os trabalhos insalubres (carregar defuntos é o mais leve deles) do dia-a-dia. "Enquanto os cremados vão para o céu, esses homens não precisam morrer para chegar ao inferno. Já vivem nele", diz, com certo sarcasmo, Prem Chaudhary, um indiano que se diz sacerdote brahmin, a mais alta casta hinduísta. A crença inabalável na eternidade da alma, na transitoriedade da vida, no fogo purificador que substitui lágrimas -e de que a condição terrena de cada um é fruto das ações cometidas em existências passadas- faz de uma cremação hindu uma grande maneira de se começar a entender a fé na Índia. Terra, paraíso e trevas parecem dividir uma só paisagem neste país que abriga pelo menos cinco fortes religiões, cada qual a exercer grande influência em seus devotos. Hinduísmo, islamismo, budismo, siquismo, cristianismo. Das turbas de miseráveis à abastada classe alta, a maioria dos indianos faz de uma dessas crenças o seu modo de vida e seu conforto pós-morte.Babel religiosaNa Índia, respira-se o incenso dos templos hindus, ouvem-se os versos do Alcorão, admira-se a beleza dourada dos templos siques, viaja-se ao som plácido dos mantras budistas. Tudo entremeado pela agressividade do caos terreno -feito de multidões, fumaça, barulho e estrume de vaca- e pela feiúra da pobreza afrontada em cada esquina.Os hindus (eles representam 82% da população indiana) acreditam em um complexo panteão de deidades que inclui ratos, falos e yogis de pele violeta. Os muçulmanos seguem sua rígida fé monoteísta em Allah. Monges budistas mantêm as cabeças raspadas como símbolo da austeridade de sua religião. Pelo mesmo motivo, siques cultivam longas barbas e melenas. A convivência entre tantas crenças é perigosamente próxima e já gerou conflitos sangrentos no subcontinente. Fanáticos hindus destruíram, em 1992, uma mesquita na cidade de Ayodhya por acreditar que ali era o local do nascimento de Rama, uma encarnação do deus Vishnu. Em 1984, os guarda-costas siques da então primeira-ministra Indira Gandhi, de família hindu, a assassinaram. O motivo: alguns dias antes, na caça a um grupo separatista, ela mandara bombardear o Harmandir Sahib, o mais sacro dos templos do siquismo. Nada, porém, superou a guerra civil causada, em 1947, pela criação do Paquistão a partir de um vasto território indiano: a partição colocou hindus, siques e muçulmanos uns contra os outros e causou a morte de aproximadamente 500 mil pessoas.O conflito ainda suscita mágoas: "Os muçulmanos são os responsáveis pela divisão do nosso país. Não os perdôo por isso. A Índia não é deles", diz o estudante hindu Praveen Patel. O islã dominou o norte da Índia entre os séculos 12 e 18 (hoje, 12% da população local segue as leis do Alcorão) e ali enraizou sua fé em um esplendoroso conjunto arquitetônico -o Taj Mahal, uma das Sete Maravilhas do Mundo, é exemplo disso. Na capital, Déli, Patel e seus companheiros hindus encontram-se cercados por suntuosas mesquitas e mausoléus de antigos imperadores maometanos. A ouvidos leigos, o hindi (língua oficial entre hinduístas) se confunde com o urdu (idioma da maioria dos indianos muçulmanos). Muitos dizem que da fusão dessas duas crenças nasceu o siquismo, fundado no século 15 e que hoje abarca 1,9% da população indiana. Devoto da religião, o jovem Gurprit Singh discorda. "Quando foi criado, o siquismo rejeitava o sistema de castas hindu e adotava apenas um Deus para se venerar. Mas nossa fé tem um sistema próprio. Não vem nem do hinduísmo nem do islã."

Barba, turbante, bracelete de aço e sabre preso ao corpo são elementos do siquismo A fé dos siques está baseada nos ensinamentos do guru Nanak Dev (fundador da religião) -e de outros nove gurus que o sucederam- e dá a seus seguidores homens uma aparência toda peculiar: imponentes turbantes na cabeça, longas barbas, um bracelete de aço (que simboliza destemor) e um sabre preso ao corpo. Eles também adotam um sobrenome em comum: Singh, que significa "leão". Na Gurdwara Bangla Sahib, o maior templo sique de Déli, homens e mulheres ajoelham-se ao redor do enorme trono de ouro que guarda o livro sagrado do siquismo, o Guru Granth Sahib. Três barbudos vestidos de branco tocam e cantam músicas orientais. Ao contrário do hinduísmo, ninguém pede dinheiro aos visitantes. A exemplo do islamismo, não há veneração a imagens. Apenas as fotos dos dez gurus estampadas nas paredes da gurdwara. Comida é distribuída aos fiéis. No lado de fora, à sombra de três cúpulas de ouro, que se refletem em um enorme tanque-d'água, crianças brincam, adultos oram. Um clima de paz que se completa pela música a Deus que emana de grandes alto-falantes. Geografia da féOs siques representam uma classe próspera no país. O Estado que concentra o maior número de devotos da religião, o Punjab, é um dos mais ricos da Índia. O atual primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, é sique. Já o Estado dono de uma esmagadora maioria muçulmana encontra-se há 60 anos sob troca de tiros. Trata-se da Caxemira que, por sua população islâmica, é reclamada pelo Paquistão desde a partição de 1947. A contenda já gerou conflitos armados entre os dois países. Dentro da mesquista Hazratbal, na cidade de Srinagar, fiéis realizam sua salah (as cinco orações que os muçulmanos devem fazer diariamente) ao lado de soldados indianos com fuzis nas mãos. Srinagar é uma urbe exótica e perigosa. Banhada por lagos de onde brotam flores de lótus na primavera, as montanhas do Himalaia ao fundo, a cidade convive com barricadas militares e soldados mal-encarados. E os caxemiris, no meio dessa disputa territorial, dizem que gostariam mesmo é de ter seu próprio país. A Índia acusa o governo paquistanês de incitar este sentimento separatista e armar os terroristas que, vez ou outra, fazem explodir bombas por aqui. Afinal, uma Caxemira independente seria mais dócil ao islâmico Paquistão que aos indianos. Srinagar, porém, ostenta sua ilha hindu: um templo localizado no alto da colina Shankaracharya, permanentemente cercado por um grande contingente de soldados. Antes de subir, o visitante é revistado. "É necessário. Alguns terroristas muçulmanos adorariam arrebentar isso aqui", diz Mohamed Rafiq, morador da cidade. Lá em cima, em uma apertada construção, um jovem hindu, de aparência ébria, guarda a principal imagem do templo: o lingam, uma escultura de pedra de formato fálico que representa Shiva. Rafiq, que é muçulmano, olha a deidade e dispara: "Esses hindus são loucos mesmo". Cristo e BudaNo retrovisor do carro de Lazar Pati, que cruza à alta velocidade o deserto do Rajastão, uma imagem de Jesus Cristo. Nesta terra de vacas sagradas, mulheres de sari e homens de turbante, estranho é ver alguém que faça o sinal da cruz para se benzer. Mas Lazar é cristão mesmo. E faz parte de uma fé expressiva na Índia, que abrange 2,3% da população. "Não gosto dessa coisa de adorar ratos ou deuses estranhos", diz ele, com cara de nojo. "Prefiro ficar com os ensinamentos da Bíblia."No Estado de Goa, sudoeste do país, é que se vê a força da presença cristã no subcontinente. Antiga colônia portuguesa, Goa é cravado de igrejas cuja arquitetura lembra muito a encontrada em cidades históricas do Brasil. Em uma delas, a Basílica do Bom Jesus, repousa o corpo de São Francisco Xavier, que chegou à Índia no século 16 para catequizar o povo local.E, se Cristo não chegou a estar pessoalmente em sua terra, a mística Índia deu origem a outro grande messias da história: Siddhartha Gautama, o Buda. Nascido no que é hoje território do Nepal, ele atingiu sua iluminação na cidade indiana de Bodhgaya e pregou as primeiras diretrizes do budismo na região de Varanasi. No local, chamado Sarnath, monges se encontram periodicamente para realizar orações e louvar seu grande líder. Esse vínculo umbilical com o budismo fez a Índia tornar-se o exílio de milhares de tibetanos -inclusive o Dalai Lama- que deixaram seu país após a invasão chinesa, em 1950. Siddharta Gautama é venerado, pelos hindus, como uma encarnação do deus Vishnu. Mas, em vida, ele era outro que criticava o sistema de castas e a enorme legião de deidades hinduístas. "Deus é o mesmo"Sentado na beira do rio Ganges, o asceta Ravipudi observa as cremações. Cabelos dreadlocks, grande barba e a testa pintada, ele não tem propriedades, não possui trabalho, não faz sexo. Vive de esmolas e passa a vida a meditar, a rezar e a estudar textos religiosos (principalmente os hinduístas). Seu objetivo é desprender-se dos prazeres mundanos, transcender à condição humana e, com isso, atingir moksha (libertação do ciclo de reencarnações que prende os homens aos sofrimentos da Terra). Para um homem que entrega sua vida de modo tão radical a Deus, Ravipudi tem uma opinião que, de tão tolerante, surpreende. "O Deus que cada religião cultua é o mesmo. Não importa se é Shiva ou Alá. As pessoas só oram de maneira diferente. O que importa são os benefícios que essas crenças traz a cada um." E, de fato, todas essas religiões que convivem lado a lado na Índia, que de vez em quando se engalfinham em sangrentas brigas, ostentam afinidades impressionantes. Estudiosos gostam de ressaltar a semelhança entre os nomes Cristo e Krishna (principal personagem do Bhagavad Gita) e fatos em comum na vida dos dois personagens. Ambos são protagonistas de livros sagrados de suas religiões, tinham sangue nobre e fizeram milagres em vida. Os siques, apesar de discordar do sistema de castas, acreditam, como os hindus, em carma e reencarnação. Por sua vez, os muçulmanos vêem Jesus Cristo como um dos grandes profetas de Alá. E os monges budistas, a exemplo dos ascetas hindus, renunciam aos prazeres terrenos com o objetivo de atingir a libertação do ciclo de reencarnações.Ravipudi, por sua vez, quando morrer, não precisará ser cremado. A vida de privações já realiza o trabalho de purificação da alma que seria atribuído ao fogo. Seu corpo será jogado intacto no rio Ganges. Uma prática estranha. Mas que, na mística terra indiana, é apenas uma das muitas maneiras se ir ao encontro de Deus.


Nota do blogueiro: Estranhamente sinto uma enorme atração por este país. E lá desejaria pisar seu solo. Nem que fosse apenas para morrer.

Estréia (ainda que (muito) tardia)

Parece incrível, mas foram necessários longos 16 anos para que o André molhasse seus pés pela primeira vez em águas salgadas. Uma absurda espera considerando a extensão da costa que banha o Brasil - e a proximidade do litoral paulista. Mas tudo bem. Esse dia chegou e graças à boa alma do Marcão que o levou ao mergulho inaugural no Guarujá. Que não demore tanto entre o batismo e uma nova aventura nos mares.

03 novembro 2007

2 anos (atrasado) !!

Mês passado este blog completou dois anos de atividade. Provavelmente a data passou batido por qualquer motivo. Mesmo por que não há, hoje em dia, muita inspiração para postagens. Mesmo assim tenho muito carinho por TODOS os textos e imagens que compõem este arquivo. São, como diz a própria definição do blog, nossa "janela" para o mundo fora da mata onde moramos. Nosso testemunho do que aqui se passa e nossa leitura de fatos do mundo (em todas suas dimensões) que nos cerca. Dos asssuntos mais sublimes aos mais ácidos, tudo reflete nosso momento registrado nas datas publicadas. Sendo que neste espaço de tempo, a figura do João Pedro constitui-se num divisor de águas. Tanto quanto o ribeirão que corta nossa propriedade. E se não fosse ele, sei lá...nem sei o que seria deste que aqui martela este teclado.

Dia dos Mortos

Ontem foi o Dia de Finados. Tenho uma enorme dificuldade em evocar meus antepassados. Talvez por desejar lembrá-los em sua plenitude, talvez como uma auto-defesa involuntária ou inconsciente em não me envolver na nostalgia ou sentimento da perda de suas existências. A verdade é que sempre que me vêem à memória, a imagem recorrente é deles sorrindo, o que acabo considerando minha singela homenagem. Será isto basta? Não cultuo ir a cemitérios nem nesta data "comemorativa", nem em outros dias do ano. Mas acho isso um erro. Visitar, conversar - ainda que com o especto abstrato diante de um túmulo ou lápide- bem que poderia ser um exercício de reverência em respeito aos que tanto amei e já se foram. Talvez os índios, em sua sabedoria primitiva são os que melhor conceituam este ato de amor e respeito através do Kuarup. Sinto muitas saudades de algumas pessoas muito especiais que fizeram parte de meu universo até aqui. Mas, repito, há uma enorme dificuldade em revivê-los de maneira frequente e convincente. Eis aqui alguns nomes como tentativa de chamamento a este respeito: vovô Affonso, vovó Amélia, vovô Chiquito, vovó Olga, Quico (meu pai) , Durval (meu segundo pai) , "tia" Alzira, tio Raul, tia Yara, tia Dadá, tio Affonso, tio Odair, tio Dalmar...

26 outubro 2007

o fim?

extinção

{verbete}
Datação1539 CDP IV 80
Acepções
■ substantivo feminino
1 ato ou efeito de extinguir(-se)
2 Rubrica: ecologia. desaparecimento definitivo de uma espécie de ser vivo
3 Rubrica: óptica. m.q. absorvância
Etimologia
lat. exstinctìo,ónis 'falecimento, morte, extinção', do rad. de exstinctum, supn. de exstinguo,is,xi,ctum,guère 'apagar, extinguir, aplacar, abrandar, destruir, abolir, aniquilar; dessecar, esgotar'; ver -stinção e -sting-; f.hist. 1539 ystinçam, 1540 extinçam, 1553 extinção, 1789 extincção.

Palavra tenebrosa que nos remete a um dilema dos tempos atuais. O homem, com sua ganância ou nocividade brinca com o eterno. São espécies animais, vegetais ou minerais agonizando sem piedade de quem delas abusa. Matando e explorando.
Hoje a Débora salvou um passarinho indefeso da boca de uma de nossas gatas. Se não o fizesse, seria seu divertimento alimentar. Divertimento por que come ração todo dia sem precisar da caça. Mas nesse caso a caça é pelo menos instintiva e não predadora.
Fico estarrecido com notícias de todas as partes do mundo e do Brasil. O quê fazer?
Existem as ongs presevarcionistas mas muitas delas, apenas entidades caça-níqueis sob uma fachada politicamente correta. É realmente...um enorme e crucial dilema.

á(b)gua

João Pedro. Fora as primeiras palavras familiares como papá, mãma e gogó (vovó), passou a falar talvez a mais importante das palavras diante de sua inserção no cosmos de sua existência: água. Ainda não é um água redondo, claro e bem pronunciado. Rola quase um "b" pra sair o "g" de água, com ele fechando a boquinha. Mas sonoramente é água, sim senhor. O instinto da necessidade ante a mais vital fonte energética da qual somos dependentes. A natureza saúda seu brado de identidade neste "canto das águas" que é seu santuário.

25 outubro 2007

Quanto mais se conhece o ser humano...

...mais admiro os animais. Em recente matéria veiculada na tv, tomei conhecimento do incrível trabalho desenvolvido pelo Projeto Gap - um movimento internacional de reintegração de primatas dentro de condições saudáveis de vivência. São animais que já viveram em zoológicos, circos ou mesmo em viveiros particulares e que por inúmeras razões sofreram abusos, maus tratos ou simplesmente apresentaram distúrbios ante a dificuldade de co-existência (!) com humanos.

08 outubro 2007

Sobre o Dia da Criança

Meus Oito Anos
(Casimiro de Abreu)
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberto o peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Olha o Zé aí gente !!!


Entre as várias espécies que habitam as matas aqui da serra, nenhuma se tornou tão próxima de nosso convívio quanto o Zé. Trata-se de um saruê, o popular gambá. Um bichinho muito simpático, mas também muito atrevido. Todas as noites ele desce de uma árvore que fica logo atrás de nossa casa e bate o maior rango, filando a ração dos gatos. No início ficávamos contrariados, afinal ele manda bem cada vez que baixa de seu habitat e se farta com a comida abundante - afinal são sete cuias, correspondentes a cada um de nossos bichanos. Mas com o tempo nos acostumamos e acabamos até batizando-o com este apelido. Um dia apareceu outro intruso junto com o Zé. Não sabemos ao certo se era um parente ou apenas um companheiro de rango. Teve até briga entre os dois, como que disputando a comida. São criaturas deste maravilhoso universo que as queimadas cruelmente ameaçam a cada nova ocorrência. Pelo menos o Zé pode ficar tranquilo. Na árvore aqui de casa ele estará sempre protegido. E bem alimentado.

06 outubro 2007

Queimada

Hoje tivemos mais um triste fato quebrando nossa rotina, ainda que seja sábado. Uma queimada provocada por irresponsáveis atingiu uma gleba que possuímos do outro lado da estrada. Trata-se de uma área de mata - nativa e mista - que vai demorar sabe-se lá quanto tempo até ser recomposta. Em agosto tivemos outra dramática situação (conforme postagem) envolvendo este tipo de crime. O mais curioso é que existe um mito na região, onde sempre se fala que isso é "coisa de moleque". Conversa. Isso é coisa muito de marmanjo barbado e mal intencionado. Daí você liga pro bombeiro e ouve do outro lado: "tá perto da casa?". É só isso que interessa a eles. Também pudera, com o número assombroso com que as queimadas se propagam nesta fase do ano - de clima muito seco e sem chuvas - os caras mal dão conta das ocorrências. Fico pensando na agressão que sofre o meio ambiente, os animais... até mesmo as cobras tão temíveis, coitadas, nada têm culpa da ação do homem - bicho ruim - com sua ação nociva. Tem queimada na Europa ? Tem. Tem nos EUA? Tem. Tem na Austrália? Tem. Isso serve de consolo? NÃO!

01 outubro 2007

Não resisti "piratear" o post do sempre ácido, ainda que irônico, Mino Carta, em seu obstinado exercício de traduzir este Brasil, sil, sil, sil (como ele diria). Nem li o artigo que ele menciona (escrito pelo mofado João Mellão no Estadão), pois há muito tempo "cansei" de me deparar com sua retórica retrô. Aliás, Mellão quem?

Mala tempora currunt
Por Mino Carta

Leio, fascinado, um artigo de João Mellão na página 2 de O Estado de S.Paulo de hoje. Orgulha-se de pertencer a uma elite, esclarece que elite significa a nata em cada setor da sociedade, nega, não sem veemência, a dicotomia bom povo-elite má, forjada pela obsessão esquerdista. E assim por diante. Quero deixar claro que este post não é resposta, apenas uma oportunidade para meditar. Pensamentos esparsos, sem maiores propósitos de revelar a verdade. Por exemplo. Aceito o pensamento de João Mellão, e reconheço a presença de uma elite do futebol. Na qual milita o ex-presidente do Corinthians, Alberto Dualib.Não seria elite que manda no seu rincão, graúdo ou miúdo? E este Brasil, grande, notavelmente dotado pela natureza, vocacionado para ser bem sucedido, não deve à sua elite o fato de estar tão mal das pernas? Ou por que entregaram o ouro ao bandido, ou por que eles próprios, os componentes da elite, cuidaram da bandidagem.Os povos são todos iguais, o que mudam são as circunstâncias. As nossas foram criadas por quem? Pelos predadores iniciais e, ao surgir a oportunidade, pelos predadores nativos.E o povo, que tem a ver com isso? Os indígenas foram sistematicamente enganados e dizimados. Não eram tão bons de trabalho, e então vieram os africanos, imigrados, digamos assim, debaixo do sibilar do chicote, e os sinais da escravidão ainda estão presentes. Hoje a maioria é mestiça, e este é o povo brasileiro. Que esperar dele? Que faça por conta própria a revolução?A elite nativa sempre apostou na cordura e na resignação do povo. Sergio Buarque de Hollanda chamava-a, ironicamente, de cordialidade. João Mellão, aplicado representante da elite paulistana em outros tempos definida como quatrocentona, rejeita a dicotomia elite-povo. Difícil escapar a ela, impossível mesmo, sobretudo em um país como o Brasil, tão desigual, um dos mais desiguais do mundo, seus rivais são Nigéria, Serra Leoa, e outros do mesmo porte.Quando da Revolução Francesa, inequivocamente burguesa, incumbiram-se os burgueses de empurrar o povo à Tomada da Bastilha. Os insufladores e organizadores da revolta, pela qual hoje ninguém se queixa, estavam fartos (cansados?) de sofrer as conseqüências da prepotência aristocrática e eclesiástica. Na França dos fins de 1700 os iluministas eram farol nas trevas, mas o país vivia no caos. Falta de autoridade de um lado, miséria e criminalidade do outro. Os nossos burguesotes provincianos estão cansados da miséria e d criminalidade, na qualidade de manifestações populares, e apavorados pela possibilidade de que o povo comece a dar o ar de sua graça. Os burgueses daquela França eram, no mínimo, mais espertos.Alguma mudança está no ar, e é isso que agita a chamada elite à qual Mellão orgulha-se de pertencer. Lula é o primeiro sintoma da mudança. Não estou a analisar o governo atual, de muitos pontos de vista me decepciona, mas o que me parece enxergar transcende a decepção. As vitórias de Lula em 2002 e 2006 me dizem que algo mudou. O povo não se incomoda se o seu candidato está de gravata e terno escuro, formou-se em alguma faculdade e sabe mais de um idioma, e a mídia perde seu tempo na tentativa de propor o tipo perfeito. A mídia, instrumento afiado a serviço da elite, não chega mais.Mala tempora currunt, diria meu pai, Giannino. Para a elite. A qual, além do mais, não sei que características haveria de ter em um país onde apenas 5 por cento da população ganha de 800 reais mensais para cima. Enquanto 0,01 por cento são nababos, andam de helicóptero e Ferrari, moram em castelos, exibem-se o tempo inteiro nas colunas sociais e escondem-se em suas vivendas cercadas por muralhas mais compactas do que as da Roma imperial.O povo não costuma ser bom por natureza. Pelo contrário, a miséria e a indigência são caldo de cultura da ignorância, da violência, da criminalidade. Tais as condições do povo, tão humilhado e espezinhado a ponto de se contentar com o auxilio familiar de escassos reais distribuído pelo governo Lula. Já se definiu a plebe como rude e ignara. De verdade, a definição cabe à perfeição para qualificar a elite brasileira. Quem se orgulha de fazer parte dela, deveria dar-se ao respeito.

19 setembro 2007

Querida mãe...

Alda Perdigão em seus dias de glória como cantora.

Pois é, mãe. Entre a primeira foto e esta aqui acima, um turbilhão de acontecimentos a pautar sua vida. Confesso ser muito intrigante para mim dedicar palavras por ocasião de seu aniversário. Muitas são as lembranças. Maiores ainda minha gratidão e afeto em sua direção. Não é fácil compreender a grandeza de seu ser. As nuances de sua personalidade. Sua sensibilidade e sentimento, encobertos por uma bruma que só a alguns foi possível revelarem-se em sua essência e plenitude. Te amo pacas, mãe. Que Deus lhe dê sempre a saúde tão importante para seguir seu passo em frente. Parabéns !!!

15 setembro 2007

o dinheiro não traz felicidade...


Mas dizem alguns que ele compra. No caso da foto acima , ela ( a felicidade) me segue bem de pertinho logo atrás. Mesmo por que esta moto não é minha, hahahahahahah.

João Pedro e Pablo: os dois filhos de Afonso

Pena que a única maneira de vê-los assim juntos é através de fotomomtagem.

13 setembro 2007

VERGONHA!

"Deitado eternamente em berço esplêndido" - até quando ? Acorda, Brasil !

07 setembro 2007

Bom feriado!

Paulistanos na véspera do feriadão de 7 de setembro.

29 agosto 2007

Refazendo

Em 4/07/07 publiquei uma postagem com o título de Reflexões. Ali, fazia digressões sobre minha visão de aspectos do caminhar do mundo neste milênio. Agora quero corrigir um erro. Acho que quando critiquei a qualidade da música produzida, não levei em consideração uma questão muito importante. Uma coisa é a música que toca nas rádios e na mídia "main stream" em geral. Outra coisa é o fabuloso manancial que rola nos quatro cantos do mundo mas que não ultrapassa a barreira dos "jabás" (a propina paga pelas gravadoras para que as rádios toquem este ou aquele artista), restrita ao universo independente - os chamados indies. Aliás, graças à internet a produção mundial audio-visual tende só a aumentar o espaço deste universo rico em criatividade e experimentalismo. Pois foi lendo a matéria do jornal espanhol La Vanguardia (somente para assinantes UOL) que me convenci do erro que aqui corrijo. A (boa) música produzida no Brasil anda bombando mais que nunca. Para deleite nosso e de gringos afins.

27 agosto 2007

Paraíso Tropical

Goste-se ou não é fato que as telenovelas se tornaram um produto genuíno da cultura brasileira. Seja qual for a classe social, milhões de pessoas (de donas-de-casa a socialites, de formadores de opinião a moradores de favelas) já ficaram grudadas na telinha acompanhando momentos eletrizantes nas mais diferentes tramas já abordadas. Eu que testemunhei em "Beto Rockfeller" nos anos 60, considerada um marco na telenovela moderna - diferentemente do padrão dramalhão mexicano - com início do enfoque social como temática, destacaria "Vale Tudo", de Gilberto Braga e "Páginas da Vida" de Manoel Carlos, como dois exemplos de tramas muito bem estruturadas e desenvolvidas. Cada qual ao seu feitio de seus autores. Na Folha (só pra assinantes) deste domingo, 26/08/07, há algumas opiniões sobre "Paraíso Tropical", novela que atualmente ocupa o horário nobre da Globo. Mas o que mais me chamou atenção, foi a análise do psicanalista Tales Ab´Sáber, que diz: " Creio que se comenta aí o estado de moratória social e de crise de orientação das elites, que têm um mal-estar com o fato de estarem condenadas ao país degradado no qual vivem em pleno benefício, além de se sentirem punidas com a estagnação histórica do país, que elas mesmas promoveram."
Pois é, penso ser exatamente esta a grande vingança em torno de tais elites. A grande armadilha em contagem regressiva que julgavam estar imunes, vivendo encasteladas indiferentemente à falência de Brasil mais justo e próspero socialmente. E menos mesquinho.
Isto torna ainda mais escandalosa (e cara-de-pau) a inciativa dos fundadores (e seguidores) do movimento Cansei. Como se a realidade que gera indignação de seus idealizadores e defensores fosse algo que tivesse surgido sem a legítima participação destes no estado de coisas em que se tornou o Brasil. É quase um Teatro do Absurdo onde atores e platéia parecem não se dar conta do ridículo que tal encenação provoca aos mais atentos à história do Brasil dos últimos 40 anos. Onde paraíso tropical passou a ser metáfora para um Brasil como nação do futuro - mas somente aos bem "colocados". Eis aí a grande piada. Não percam os próximos capítulos. Quem viver, verá.

23 agosto 2007

nocaute coletivo

Não foi só a ponte que caiu. Desde domingo fomos um a um sucumbindo ante uma avassaladora virose que se abateu aqui no povo do canto das águas. Começou com a Débora, depois o pequenino João Pedro. Em seguida o André e por fim este que aqui martela as teclas. E que nocaute!

A ponte do canto das águas

Nosso sítio é cortado pelo lendário Ribeirão do Onofre . Devido à topografia montanhosa de nossa região, este curso d´agua precipita-se em cascatas e cachoeiras em algumas propriedades (inclusive a nossa conforme mostra a foto do blog). De um lado do Onofre está a Serra do Itapetinga. Do outro, o bairro Água Espraiada. Ao longo da estradinha, uma das pontes (bem em frente ao nosso sítio), por onde passa o rio ligando estas duas regiões, cedeu parcialmente recentemente, fazendo com que finalmente os órgãos (in)competentes tomassem as providências cabíveis. Até então, eu costumava a dizer que a ponte era sempre remendada com saliva e chiclete. Depois do processo de restauração dos alicerces, veio a parte mais delicada e durante três dias esta passagem ficou interditada. Para nós não foi tão ruim assim, pois além de ficarmos sem movimento nenhum (apesar deste paraíso em que vivemos, o vai e vem do tráfego na estrada ás vezes chega a incomodar bastante), tínhamos a opção de uma das entradas alternativas do sítio que fica do outro lado da ponte. Muito embora tivéssemos que atravessar uma boa faixa à pé (incluindo uma pequena ponte interna) para chegar até o carro, que lá ficou estacionado por dois dias para nossas idas e vindas. Transtorno mesmo foi para outros moradores que tinham que dar uma grande volta utilizando-se de estradas de terra para saírem (e chegarem) de seus sítios ou casas em condomínios. Para os pedestres (os únicos a terem acesso mesmo durante a restauração) foi feita uma operação diferente: ficava um ônibus de cada lado da ponte para a baldeação. Hoje, o tráfego foi restabelecido e a vida volta ao normal. Só falta o "rescaldo", já que a fachada do sítio ficou bem detonada com as obras e seus entulhos. Segundo os responsáveis, esta ponte dará lugar a uma definitiva, com vigas metálicas e cimento, ao contrário desta que foi restaurada com toras de eucalipto e terra sob o asfalto. Veremos.

15 agosto 2007

O bichou pegou aqui!

Ontem foi um dia (e noite) daqueles!!! Uma forte queimada, provavelmente causada por inescrupulosos ou mesmo a gangue de vagabundos que mora nas redondezas. Foi terrível, pois eu estava em SP quando soube pela Débora do ocorrido e nada podia fazer, a não ser acompanhar a situação à distância. Mais uma vez a D. Ursula e o seu Marco (acompanhados do caseiro deles, seu Zé) foram de uma solidariedade incrível, ajudando a apagar o fogo, juntamente com a Débora e o André. Aliás, o André foi um verdadeiro herói, combatendo focos para que não se aproximassem de nossa casa. Foi um perrengue!
Felizamente o fogo foi controlado sem que chegasse ao bambuzal, o que poderia causar muito mais danos à vegetação e ameaçar nossa casa.

bela mas...

A foto acima publicada na Folha de sábado mostra uma bela paisagem rural. Mas aquela nuvem escura ao fundo na verdade é uma queimada que se funde no cenário estragando tudo.

12 agosto 2007

Caros Amigos

Com certeza nossa vida aqui nas montanhas não seria a mesma se não fosse o convívio que cultivamos com nossos queridos amigos, D. Ursula e "seu" Marco. Logo no início de nossa vinda, em 2003, conhecemos este formidável casal que além de vizinhos (moram num sítio, o "La Chamade", cerca de 2 kilômetros montanha acima), nos brindaram com sua fraterna amizade.
D. Ursula, de mente aberta e valores nobres, sempre tem uma palavra amiga ou gesto carinhoso. Seja na elaboração de seus bolos europeus ou nos ofertando mudas ou frutas. Se já havia uma afetividade muito grande deles para com o André, com o João Pedro este carinho só se multiplicou. Tratou, logo que ele nasceu, de nos emprestar um livro em inglês de exercícios fisicos para bebês e crianças como que atenta para sua evolução e crescimento.
O "seu" Marco então é um personagem à parte. Um homem de coração incrível e uma capacidade de criar soluções fantásticas. Mecânico naval e de aviação, este polonês completa com muitas habilidades, as qualidades deste adorável casal. Tudo que o faz é engenhoso, original e eficiente. Fruto do trabalho executado numa oficina muito bem cuidada e bem equipada, localizada no sítio que ele zela com o carinho como se fora para um filho.
Eu às vezes digo que ele parece um misto de McGaiver com prof. Ludovico - aquele personagem inventor dos gibis de Walt Disney. Ele entende de tudo: elétrica, hidráulica, mecânica. Além do conhecimento técnico, possui uma enorme experiência conquistada ao longo das 7 décadas e mais um pouco, com que caminha por esta vida.
Infelizmente é desejo deles partir daqui e começar uma nova vida em solo baiano. Querem deixar os desafios da mata na serra e encarar uma nova empreitada vivendo próximo a uma das irmãs (a outra mora na Suiça) de D. Ursula que mora na praia do Forte, ao norte de Salvador. Aqui em casa somos divididos a cerca de tais planos. Se por um lado torcemos para que eles realizem este desejo, por outro sabemos o tamanho do prejuízo que suas ausências nos trará. Enquanto este dia não chega, seguimos tendo o prazer de cultivar esta bela amizade.

Dia dos Pais

Queridos Quico e Dudu,

Onde quer que estejam segue daqui meu beijo e gratidão por ocasião do dias dos pais. Agradeço o carinho, proteção e dedicação que recebi dos dois. Que Deus ilumine suas almas hoje e sempre.

07 agosto 2007

Apagão do Blog

Devido a problemas técnicos do servidor deste blog, ficamos sem postar nenhum tópico desde o dia 31 de julho. Tal falha não foi generalizada, pois nem todos os blogs pertencentes ao servidor (blogspot) tiveram o mesmo problema - conforme verifiquei em postagens recentes. Essa verificação só pode ser feita hoje, já que também era impossível navegar em blogs do servidor.

30 julho 2007

O fim da sétima arte


Com as mortes de Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni, morrem junto muito da poesia e genialidade do cinema. Com seus filmes inquietantes de narrativas densas, cada qual ao seu estilo de linguagem e personalidade na abordagem de temas do cinema moderno, deixaram obras magníficas e órfãos do cinema-arte. Resta-nos a resistência dos últimos ícones ainda vivos (e filmando) , tais como Martin Scorcesi ou Francis Ford Coppola como últimas colunas de um cinema em franco processo de falência. Ficam os "Piratas do Caribe", "Harry Potter" e outras máquinas de caça-níqueis para júbilo de multidões ávidas do próximo lançamento de Hollywood. Glauber Rocha deve estar muito feliz lá em cima com a chegada destes ilustríssimos companheiros.

Atenuando minha angústia

Não deixa de ser um certo consolo ver o ex-tri campeão de F1 Nelson Piquet flagrado em curso de reciclagem por ter tido sua carteira de habilitação suspensa. Como estou em pleno período de punição, a imagem ajuda a atenuar o peso de uma culpa e a angústia que tal punição provoca. Não sei quanto tempo ele tomou de penalidade, mas no meu caso a coisa ainda vai longe.

Cansei das elites

O empresário João Dória Jr. é um dos responsáveis pelo lançamento do "Cansei". Um auto-intitulado movimento cívico pelos direitos dos brasileiros. O lançamento, juram seus mentores, não é político-partidário e surge na esteira do acidente da Tam que matou perto de 200 pessoas.

Curiosamente o movimento não reune nenhuma representatividade das camadas mais baixas da população brasileira. Por outro lado, algumas entidades empresariais (veja lista abaixo) bancam o movimento, sendo que a mais cara-de-pau (além de mau agradecida) é a Febraban, pois durante o governo Lula, os bancos estouraram seus records de faturamento. Acho incrível que nunca tais entidades tenham se indignado com a situação do povo brasileiro, onde o slogan poderia ser "Cansei de Colaborar com Isso". João Dória está mais uma vez querendo aparecer. Organizou alguns dos jantares de arrecadação de fundos de campanha para Geraldo Alckimin. Ele promove eventos luxuosos (com grifes internacionais de consumo) no Guarujá e em Campos do Jordão, além de uma passeata de cachorros de madame na cidade serrana. Será que não haveria algo mais útil em prol da sociedade e dos direitos do povo brasileiro no lugar desta passeata canina? (com todo respeito a estes últimos)

Entidades que apoiam o movimento:

OAB-SP

ABERT (Associação Brasileira das Empresas de Rádio e TV)

ABRAPHE (Associação Brasileira dos Pilotos de Helicóptero)

Associação Comercial de São Paulo

ADVBA

ESCON-SPCJE

FIESPCREA

Conaje

Conselho Regional de Medicina

FEBRABAN

FIESP

FIESP - Jovens Líderes

Fundação PIO XII

Grupo de Mídia

Grupo de Jovens da Associação Comercial

Instituto de Estudos Empresariais - IEE

JLIDE

LIDE

LIDEM

SESCON-SP

29 julho 2007

Valeu Brasil !!!

Parabéns aos atletas brasileiros que brilharam no Pan 2007.

25 julho 2007

Lula e o Brasil

Se o famoso "Eu não sabia" acabou livrando Lula de alguma responsabilidade ou envolvimento no escândalo dos mensaleiros, os dois acidentes aéreos recentes (conhecidamente os maiores em vítimas fatais da toda história da aviação comercial do Brasil), que causaram juntos mais de 350 mortes, possuem um viés em que sua figura como mandatário do país não pode recorrer ao mesmo expediente. Afinal, trata-se de um setor (Infraero) vital na vida do país e diretamente ligado ao executivo. De gente que, se não nomeada diretamente por ele, está sob sua subordinação. Assim como nos demais setores (energético, saúde, etc) do governo. Continuo achando minha opção por Lula melhor do que seria se Alckimin tivesse sido eleito. Mas me colocando no lugar dos parentes das vítimas desses dois acidentes, independentemente de culpados, fica difícil ficar neutro neste momento. Está na cara que o setor aéreo no Brasil agoniza. E o responsável maior é que aquele que na hora do balanço político diz: " No meu governo...".

24 julho 2007

Pan

Muitos jornalistas e blogueiros já teceram inúmeros comentários e análises sobre a realização os Jogos Panamericanos de 2007 no Brasil. Sem dúvida, o assunto mais polêmico do evento ficou por conta dos escândalos envolvendo o estouro estratosférico do orçamento inicial, bem como suspeitas de favorecimento na escolha dos fornecedores (muitas vezes contratados sem licitação) por parte dos organizadores. São tantas suspeitas que sugiro que o leitor acesse o blog que foi criado para registrar tais denúncias, afim de saber em detalhes tudo que a mídia que cobre o Pan omite.
Um outro aspecto me chamou atenção conforme caminhamos para a reta final desta competição: a falta de educação demonstrada pelo público brasileiro. Não bastasse a grosseria da vaia ao Lula (se querem protestar, que o façam com organização política, persistência e de forma eficáz nas ruas deste país. Não apenas em meio ao anonimato às escuras da multidão num estádio), outras manifestações condenáveis foram registradas durante provas com o claro objetivo de tirar a concentração de atletas estrangeiros ou em resultados em que brasileiros não foram bem sucedidos. Isso pra mim é uma vergonha e nada tem a ver com torcida. Revela um ufanismo distorcido e uma falha de caráter perante os olhos do mundo para onde estejam sendo transmitidos os jogos. Aliás, isso apenas reflete a realidade dentro de um contexto maior. O da falta de educação social e cultural de nosso povo.

20 julho 2007

vidas ceifadas

Vivemos nossos problemas em meio a uma fase bastante difícil aqui nas montanhas. São problemas de diferentes origens: financeiros, de perspectivas, de segurança e de tocar nosso dia a dia apesar de tudo. Mas ainda sob o impacto da tragédia de Congonhas, mesmo longe do cenário de terror, tudo que vivemos se tranforma em dramas superficiais quando conhecemos os personagens desta triste página. Hoje lendo a Folha On Line, fiquei chocado ao ler os nomes, as profissões e algumas fotos dos que se foram neste trágico acidente. Sem dúvida o que mais me doeu foi ver as fotos de crianças que tão brutal e precocemente interromperam sua curta passagem por esta vida. Que Deus lhes conceda a graça de torná-las anjos na invisível amplitude celestial. Para quem tiver coragem de conhecer uma pouco de cada um, clique aqui. Para quem não tiver força, reforçem as orações.

mais um (ou menos)

A lista de brasileiros canalhas e traidores aos
ideais de uma pátria justa e digna é longa. Mas com toda certeza Antonio Carlos Magalhães, vulgo ACM ou Toninho Malvadeza, para os inimigos, representa um dos símbolos deste mal que contamina o Brasil há décadas. De prefeito e governador nomeado pela ditadura, a cacique político do legislativo, são vários os pontos obscuros e polêmicos na vida deste senhor que morre sem deixar saudades, ante sua arrogância e métodos dignos do melhor estilo "coronelismo". De seu controle no cenário político baiano, à sua participação no chamado Centrão, que reuniu figuras históricas da direita na elaboração da Constituinte de 1988, ACM sempre despertou ira aos seus oponentes e admiração de seus seguidores. Na Bahia é um verdadeiro deus, com seu nome estampado em inúmeras obras (com certeza em conluio com empreiteiras promotoras de super faturamento), notadamente na capital Salvador.
Já na cena política recente, renunciou ao mandato de senador para escapar de mais um escândalo e voltou triunfalmente ao senado na eleição seguinte, nos braços do povo baiano que o chamavam de "painho".
Curiosamente, mesmo sendo médico e baiano fez valer as benesses (às custas do contribuinte) a que têm direito os políticos (talvez somente os de esfera federal e governadores, não sei até onde se estende tal mordomia) sendo internado, tratado e vindo a morrer no Instituto do Coração em São Paulo
ACM vai já tarde. Muito tarde. A lista de traidores é grande, mas a partida de cada um é lenta. Quem me dera Deus pudesse fazer de Maluf seu companheiro de poltrona nesta viagem sem volta.

19 julho 2007

saudades da velha Varig

Numa analogia entre o pássaro que não conseguiu voar da postagem anterior e a recente tragédia do "pássaro de metal" que desabou sobre São Paulo, surge na memória o longínquo passado da Varig. E da Vasp também. Dois orgulhos de um país que viu impassivelmente desintegrando outrora símbolos de excelência internacional na aviação comercial. Orgulho de gaúchos e paulistas, mas acima de tudo, de brasileiros, que testemunharam o apogeu e declínio, até a falência agonizante destas empresas que cortavam os céus do Brasil e do mundo.
O serviço internacional da Varig era incomparavelmente melhor que muitas empresas aéreas internacionais. Desde a simpatia da tripulação e staff em terra, até a escolha das opções do cardápio. Os talheres (da classe econômica!) da Varig eram de aço inox, ao passo que os de outras companhias eram de plástico. Parece um detalhe sem importância, mas que refletia o cuidado e esmero de uma empresa perante seus clientes. Quando se entrava no avião numa viagem intenacional, era a própria antecipação de entrada em solo brasileiro. Isto sem contar a pontualidade. Coisa que hoje em dia é uma lance de sorte no Brasil, face ao apagão aéreo.
Pois agora, esses inegáveis níveis de excelência foram literalmente pro espaço com as novas donas do mercado, Tam e Gol. E pouco importa se a Gol comprou a Varig, pois nunca mais esta companhia será uma pálida semelhança do que já foi. A competitividade gananciosa e os interesses comerciais fizeral destas duas empresas atuais (e únicas opções no mercado de rotas) máquinas de dinheiro, onde o conforto e a segurança dos passageiros deram lugar ao "pregão" das tarifas e "overbookings" a granel.
É fato que graças ao lobby das empresas aéreas, Congonhas transformou-se nesse carrossel de pousos e decolagens em ritmo frenético. Um aeroporto que encolheu ante o assombroso crescimento à sua volta desde que foi construído e que deveria ter um perfil muito menos intenso em termos de movimento de vôos (como observaram analistas em depoimentos por conta do acidente esta semana, somente para atender o serviço de ponte-aérea e de jatos executivos), tornou-se essa ameaça aérea, por mais que especialistas garantam que estatisticamente (!) os riscos de um vôo de avião é menor do que andar de bicicleta, por exemplo.
Lembro-me de quando morava em Moema e via, longe da rota dos aviões, o balé de pousos e decolagens. Ficava imaginando como era a vida de quem morava na rota desta rotina. Devia ser um inferno de barulho ensurdecedor e um perigo constante.
Já que nós brasileiros gostamos tanto de imitar os americanos, em nossa crônica tendência em sermos orgulhosamente colonizados por este país, agora já temos o nosso 11 de setembro. Com menos magnitude, é claro, como sempre. Afinal, é tudo que conseguimos com nossa capacidade limitada em tentarmos copiá-los.
Hoje vi na tv o depoimento da esposa de uma vítima fatal do acidente da Tam, onze anos atrás. Ela ainda está aguardando a indenização por conta de tal acidente. Manchete do portal G1, da Globo na noite do acidente da última terça-feira, 17 de julho: "Tam garante indenizações a vítimas do vôo e da Tam Express".
Alguma dúvida ?

hóspede passageiro

Hoje chegou ao fim a "estadia" de um hóspede inusitado entre nós. Durante 4 dias cuidamos de um pássaro que encontrei no chão numa volta que dei pelo sítio. De porte médio (cerca de 40 cm), todo preto e com uma linda penugem vermelha em seu peito, notei que o pássaro não conseguia voar e tratei de pegá-lo para ver o que podíamos fazer por ele. Fui até um viveiro que fica no vilarejo especializado em aves exóticas (que não quis ficar com ele, talvez por medo de ser uma ave nativa), mas a veterinária não conseguiu descobrir que tipo de pássaro era. Saí de lá com um pouco de ração e um tanto frustrado. Aliás, não só ela como ninguém a quem o mostrei sabia que pássaro era.
Ele ficou com a ração e água num dos banheiros de casa, dentro box, na (nossa) esperança de que pudesse enfim voar livre novamente.
Pesquisei na internet, mas não conseguia encontrar (principalmente por não conhecer sua classificação científica) o nome popular ou origem do nosso hóspede.
Hoje tentamos fazê-lo voar, já que desde o primeiro dia notamos uma marca em uma das asas, quando até colocamos iodo como medida em caso de um possível ferimento. Não dava pra saber do que se tratava, mas acho que podia até ser uma dessas cirurgias que fazem para impedir que o pássaro voe. Coisas do homem e suas agressões na natureza.
Assim que o colocamos fora da casa, ele logo demonstrou que não conseguiria voar. Foi então que resolvi levá-lo ao posto da polícia ambiental para que dessem um destino ao pobre pássaro. Depois, entrando em contato com o Zooparque de Itatiba, descobri que se tratava de um Pavó, talvez o que chamam por aqui popularmente de pavãozinho. É considerado um pássaro em extinção, principalmente na região sudoeste do Brasil.

Família: Cotingidae Espécie: Pyroderus scutatus Ameaçado de extinção

Comprimento: macho 46 cm; fêmea 39 cm. Presente localmente da Bahia ao Rio Grande do Sul e, para oeste, até Goiás e Brasília. No Sudeste, contudo, suas populações encontram-se muito reduzidas, devido aos desmatamentos. Encontrado localmente também em montanhas da Guiana, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Paraguai e Argentina. É uma espécie rara. Habita o interior e as bordas de florestas altas, especialmente em regiões montanhosas.
Vive solitário, mas durante o período reprodutivo reúne-se em grupos de até 10 indivíduos, havendo exibição do papo e vocalizações. Faz ninho em formato de uma pequena e frágil plataforma de gravetos. Põe 2 ovos amarelados com manchas marrom-avermelhadas. Macho e fêmea diferem sobretudo em tamanho. Conhecido também como pavão-do-mato.

18 julho 2007

São Paulo 17 de julho de 2007

Que Deus abençoe as vítimas desta terrível tragédia e conforte seus familiares neste momento de dor.

15 julho 2007

que delícia...

Não poderia ser melhor. Depois do Brasil se sagrar hepta campeão no vôlei, na Polônia. Depois de toda incredulidade (inclusive deste humilde blogueiro) da atual seleção de futebol na Copa América, depois de toda crítica e porrada da maioria esmagadora da imprensa esportiva contra a seleção, depois de todo favoritismo dos argentinos (que com certeza joga o futebol mais bonito atualmente, talvez no mundo), depois de 90 minutos de pura adrenalina: Brasil 3 x 0 Argentina. Como diz o chato do Galvão Bueno, vencer é muito bom, mas ganhar da Argentina é muito melhor.

Os Mutantes no New York Times

Uma bela matéria assinada pelo correspondente do NYT no Brasil, Larry Rohter, comenta a trajetória e o retorno da banda que após 40 anos voltou a brindar platéias brazucas, européias e norte-americanas. Para assintantes UOL ler aqui . Se preferir ler em inglês no NYT, clique aqui

14 julho 2007

ACM

Chego em casa depois do périplo de ida e volta a SP. Afinal hoje era uma sexta-feira 13 e consegui chegar ileso. E eis que ao ler as notícias frescas do final do dia, entre vaias a Lula e outras notas, ao entrar no blog do Noblat, deparo-me com notícias acerca do estado de saúde do "nobre senador" Antonio Carlos Magalhães. É, parece que ele está indo. Mas porque não vai logo? Justo ele ? Porque não desencarna e leva de vez com ele todo o mal que tanto causou ao Brasil? Está por pouco. Espero. Como diria aquele velho provérbio que tanto amo e preservo: "Não há tempo que não chegue, nem prazo que não se cumpra". O Maluf bem que podia ser o próximo da fila.

11 julho 2007

rock brasileiro

Depois da exposição do fotógrafo Bob Gruen na Faap (que infelizmente não pude ir) retratando ícones do rock internacional, chegou a vez do rock brazuca ser visitado numa viagem de imagens, comemorando 50 anos de rock nacional no MIS SP. Dentre as fotos lá expostas, com certeza, o melhor material deve pertencer a Mário Luiz Thompson, talvez quem mais clicou a cena musical em terras tupys. Na foto, o intrépido Jorge Mautner.
Estive em várias ocasiões na casa de Mário Thompson, nas famosas tertulhas Bem Te Vi. Mas se eu pudesse, seria muito melhor poder voltar o relógio do tempo e dar de cara (e ouvidos) com os shows que aconteciam durante a década de 70.

09 julho 2007


Na data em que comemoramos 75 anos de Revolução Constitucionalista, evoco a figura de meu tio Raul Duarte, meu querido "Bico", para mais uma vez bradar, " Non ducor, duco". E por irônica coincidência, o mercado de valores fechou hoje (mesmo sendo este um feriado somente paulistano - ora vejam só) para baixar a moeda norte-americana a menos de R$ 1,90, desde 2000. Tio Raul lutou em Cruzeiro, ao 18 anos (com fuzil e tudo mais), contra as tropas de Getúlio Vargas. Mas de nada adiantou sua coragem e bravura, com a rendição dos paulistas posteriormente. Quer dizer, de nada, nem tanto. Viva São Paulo!

04 julho 2007

Um CANALHA a menos

...pelo menos até 2010.

reflexões...

Com todo respeito a quem de mim discordar: a vida anda um tremendo porre neste milênio. Tudo é muito irritante e indigesto. A imprensa anda nojenta. Os políticos, ainda mais nojentos que nunca. O futebol, uma lástima. A imprensa esportiva, um besteirol. A política internacional perpetua as hegemonias. Os pobres sem vislumbrar uma vida mais digna. Os ricos às gargalhadas - na verdade os únicos que não têm do quê reclamar - em seus banquetes ilhados pela futilidade e o mundanismo. O consumidor sucumbindo ante a truculência corporativista das grandes empresas (notadamente as prestadoras de serviços). A violência, cada vez mais bárbara. A vida nas grandes cidades, uma tortura. A natureza, agoniza. O homem, fingindo se importar.
Na arte, não é muito menos. A grana fala mais alto que a qualidade. O importante é estar bem "colocado". Não há mais o cinema "de arte". O orçamento de divulgação dos filmes é quase a metade do orçamento geral das produções. A música, aff, só porcaria. Salvam-se muito poucos na aldeia global.
Pode ser meus 50 anos sinalizando um cara ranzinza, mas que tá um porre, ah isso tá mesmo.