19 julho 2007

saudades da velha Varig

Numa analogia entre o pássaro que não conseguiu voar da postagem anterior e a recente tragédia do "pássaro de metal" que desabou sobre São Paulo, surge na memória o longínquo passado da Varig. E da Vasp também. Dois orgulhos de um país que viu impassivelmente desintegrando outrora símbolos de excelência internacional na aviação comercial. Orgulho de gaúchos e paulistas, mas acima de tudo, de brasileiros, que testemunharam o apogeu e declínio, até a falência agonizante destas empresas que cortavam os céus do Brasil e do mundo.
O serviço internacional da Varig era incomparavelmente melhor que muitas empresas aéreas internacionais. Desde a simpatia da tripulação e staff em terra, até a escolha das opções do cardápio. Os talheres (da classe econômica!) da Varig eram de aço inox, ao passo que os de outras companhias eram de plástico. Parece um detalhe sem importância, mas que refletia o cuidado e esmero de uma empresa perante seus clientes. Quando se entrava no avião numa viagem intenacional, era a própria antecipação de entrada em solo brasileiro. Isto sem contar a pontualidade. Coisa que hoje em dia é uma lance de sorte no Brasil, face ao apagão aéreo.
Pois agora, esses inegáveis níveis de excelência foram literalmente pro espaço com as novas donas do mercado, Tam e Gol. E pouco importa se a Gol comprou a Varig, pois nunca mais esta companhia será uma pálida semelhança do que já foi. A competitividade gananciosa e os interesses comerciais fizeral destas duas empresas atuais (e únicas opções no mercado de rotas) máquinas de dinheiro, onde o conforto e a segurança dos passageiros deram lugar ao "pregão" das tarifas e "overbookings" a granel.
É fato que graças ao lobby das empresas aéreas, Congonhas transformou-se nesse carrossel de pousos e decolagens em ritmo frenético. Um aeroporto que encolheu ante o assombroso crescimento à sua volta desde que foi construído e que deveria ter um perfil muito menos intenso em termos de movimento de vôos (como observaram analistas em depoimentos por conta do acidente esta semana, somente para atender o serviço de ponte-aérea e de jatos executivos), tornou-se essa ameaça aérea, por mais que especialistas garantam que estatisticamente (!) os riscos de um vôo de avião é menor do que andar de bicicleta, por exemplo.
Lembro-me de quando morava em Moema e via, longe da rota dos aviões, o balé de pousos e decolagens. Ficava imaginando como era a vida de quem morava na rota desta rotina. Devia ser um inferno de barulho ensurdecedor e um perigo constante.
Já que nós brasileiros gostamos tanto de imitar os americanos, em nossa crônica tendência em sermos orgulhosamente colonizados por este país, agora já temos o nosso 11 de setembro. Com menos magnitude, é claro, como sempre. Afinal, é tudo que conseguimos com nossa capacidade limitada em tentarmos copiá-los.
Hoje vi na tv o depoimento da esposa de uma vítima fatal do acidente da Tam, onze anos atrás. Ela ainda está aguardando a indenização por conta de tal acidente. Manchete do portal G1, da Globo na noite do acidente da última terça-feira, 17 de julho: "Tam garante indenizações a vítimas do vôo e da Tam Express".
Alguma dúvida ?

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