27 junho 2016

10 anos atrás, 10 anos à frente.

Minha última postagem neste blog pessoal data de  4 anos atrás. Por vários motivos perdi o tesão em escrever nesta espécie "diário" de atividades, registrando nossa vida nas montanhas, comentários acerca de vários assuntos, mas acima de tudo aquilo que costumava considerar ser nossa janela para o mundo, fora dos limites da mata. Eu já havia até preparado um rascunho, com um post de despedida, quando chegasse o momento de partir deste local - talvez a principal razão que travava minha vontade em continuar a manter este blog. Mas como hoje há uma realidade concreta de aqui permanecermos, um novo sopro de entusiasmo me impulsionou para aqui retornar a escrever. 



Estas 2 fotos refletem dois momentos cujo presente divide um passado de 10 anos atrás (neste último sábado fez 10 anos que meu filho foi batizado por este intrépido frei Tiago)  e 10 anos à frente, período em que a nossa permanência vivendo no mato assumirá contornos de um grande e maravilhoso desafio. E 10 anos depois há uma possibilidade muito interessante em torno deste homem dedicado ao sacerdócio e nossos planos futuros. Vamos em frente!

05 fevereiro 2012

Tempo de mudanças - balanço de início de ano.


2012 marca um tempo mudanças de para nós aqui nas montanhas. Mudanças que começaram já no final de 2011. Pra começar, o cigarro que deixou de ser elemento presente aqui em casa. Tanto a Débora quanto eu abandonamos finalmente este vício. E estamos muito felizes com os benefícios que esta decisão trouxe "por tabela" ao nosso filho João Pedro. 
O João Pedro por sua vez está ingressando em seu primeiro aninho do ensino fundamental. É mais uma guinada a marcar nossas vidas. Aliás ele já entra nesta fase praticamente sabendo ler de tudo e escrevendo boa parte do que sabe ler. Um grande orgulho para nós, seus pais, apesar dos sinais evidentes que aquela criancinha vai se tornando um menino em franco desenvolvimento.
Outro fator de mudanças foi o início de uma nova atividade profissional, depois de meses (1 ano e seis meses para ser mais exato) de investidas minhas sem sucesso tentando voltar ao mercado de televisão e vídeo. Mercado este que eu já havia desistido por vários motivos (principalmente por falta de tesão ante a qualidade de conteúdo que marca este mercado no Brasil - claro com suas exceções) quando viemos morar no mato com o projeto da pousada - infelizmente também inviabilizado. Entramos com tudo no comércio de alimentação aqui em Atibaia. As primeiras impressões - após cerca de 2 meses de trabalho - são as melhores possíveis. E muito embora entramos de cabeça neste setor sem dispor de um capital de investimento e de giro suficientes, já estamos colhendo os frutos de um trabalho feito com carinho e dedicação. É assim que nasce nossa pequena empresa informal, Delícias da Montanha!
Certamente 2012 será um ano que marca estas mudanças. Mas ao mesmo tempo não sabemos por quanto tempo mais estaremos vivendo neste paraíso verde. É diante destes aspectos que estaremos conduzindo nossos passos neste ano. Janeiro já era e 2012 já está em pleno vapor. Boa viagem!

03 março 2011

Uma lição de vida

Apesar dos problemas que temos enfrentado aqui, relatados nos posts abaixo, assistir a este vídeo foi uma senhora porrada. Muitas vezes reclamamos das agruras da vida, mas nos esquecemos de quem tem muito mais limitações, enfrentando muito mais dificuldades. Assistam:


02 março 2011

A força das águas

Aqui antes da tragédia





 Nestas fotos as águas de 11 de janeiro como consequência de horas seguidas de chuvas fortes







































































Aqui o filme destas fotos:




E aqui dois filmes das chuvas de 28 de fevereiro (a postagem abaixo) - uma tragédia muito maior !!!





É isso. Vamos em frente!

01 março 2011

Canto ou Kaos das Águas? (relatos das montanhas)























Mal havíamos processado os acontecimentos de 11 de janeiro, quando a força das águas causou estragos consideráveis na casa sede (veja o filme aqui), e uma nova experiência dramática tomou conta de nossas vidas, em nossa saga vivendo nas montanhas. 
Ontem, um volume descomunal da água das chuvas voltou a trazer muita preocupação, tensão e incertezas. Estranhamente, o volume pluviométrico das chuvas de ontem foi menor do que as quase 24 horas ininterruptas daquele 11 de janeiro deste ano. Mas os estragos certamente foram numa escala no mínimo 10 vezes maior. 
Passava das 9 da noite quando minha mulher e eu, munidos de capa e lanterna,  descemos os 144 degraus que separam nossa casa (no alto) da casa sede. Um barulho ensurdecedor não deixava dúvidas quanto à situação que encontraríamos.
O açude havia transbordado novamente, mas numa agressividade muito maior e pior que da outra vez. E pior ainda era a certeza de que as águas haviam invadido a casa. Casa esta que já havia sido interditada pela defesa civil por conta do risco de solapamento, um dia após a inundação de janeiro. 
Retornamos impotentes a subida, sem poder imaginar em que extensão se dariam os estragos. 
O ruído estrondoso das águas insistia em deixar dúvidas e preocupação permanentes. 
Logo cedo pela manhã fomos ver o resultado. A foto no topo da postagem traduz parcialmente a cena de desolação e destruição. 
Árvores arrancadas das margens do ribeirão que foram tragadas montanha abaixo. Muita vegetação empilhada no limite da barragem. Placas de cimento arrancadas do chão. E claro, lama e água no interior da casa. Mais lama do que água. 
As águas abriram um leito cuja largura do curso preencheu uma grande faixa, ocupando boa parte da área da casa e além. 
Uma devastação jamais vista antes. 
No sítio vizinho mais destruição. Ao longo da estradinha asfaltada, pontes condenadas, destruídas ou na eminência de ruirem. 
Um senhor, caseiro de uma propriedade vizinha, afirma categoricamente que em seus 78 anos (nascido, criado e "envelhecido" neste local), jamais vira algo semelhante. 
Passamos cerca de 10 horas arrumando o cano que leva a água da mina para nossa casa. Operação de guerra.
Mas para criar mais terror, quando fui comprar a mangueira para consertar o encanamento, fico sabendo pelo celular que a defesa civil, em visita à casa onde moramos, está avaliando os riscos de nós permanecermos no local pelo fato desta estar localizada numa encosta. 
Aquilo que um dia foi um sonho de natureza exuberante a nos rodear vai se transformando num pesadelo sem fim. 
Estamos ilhados entre duas pontes (uma destruída, outra interditada) sem podermos sair com o carro. 
Hoje é o primeiro dia de março, a estação das águas. 
Pano rápido. 

03 fevereiro 2011

A partida inesperada de Ângelo















No começo eu não queria. Mais um bicho? Mas daí minha mulher insistiu, dizendo que quase não dava despesa e que a escolinha do João Pedro estava doando. Então acabei cedendo.
O João Pedro foi quem deu o nome: Ângelo.
E assim este doce e simpático chinchila passou a fazer parte de nosso dia a dia. Sempre pronto para receber doses generosas de cafuné. 
Os meses se passaram e de repente do nada, ficou doentinho e em praticamente 24 horas acabou morrendo. Que pena...

Sentimos muito sua curta permanência em casa. Mas esses bichos possuem expectativa de no máximo 2 anos. 
Pelo menos resta o consolo de que este escapou de virar casaco de pele. 
Obrigado, por sua amizade, querido amiguinho.

Limite e Eisenstein: lenda ou verdade?


Certa vez li um artigo assinado pelo jornalista Leão Serva, que trabalhava na ILUSTRADA (Folha de São Paulo), desmascarando a história de que o cineasta Serguei Eisenstein teria escrito uma resenha tecendo elogios ao filme LIMITE, de Mário Peixoto. O artigo, se não me falha a memória, fora publicado na década de 90, e lembro-me de ter ficado um tanto revoltado com seu teor, pois o jornalista afirmava que aquilo não passava de uma lenda, uma farsa plantada pelo próprio Mário Peixoto, resultado de sua personalidade controvertida e excêntrica. Curiosamente, o motivo de minha revolta era o fato de que, durante o período em que morei e estudei cinema em Londres (no início de 80), pude constatar que a história não era exatamente como escrevera Serva. 
Isto porque ao visitar o Britsh Film Institute, numa ensolarada tarde de verão londrino, resolvi procurar na biblioteca do instituto qualquer coisa que mencionasse este filme, o qual tinha virado uma espécie de fixação para mim. Não só pelo seu conteúdo, forma, mas pela aura que o envolvia. 
Naquela época os arquivos ainda eram no formato de micro-filme. E para minha surpresa, eis que encontro nada mais nada menos que o texto, supostamente escrito e assinado por Eisestein, falando exatamente de... LIMITE. 
Na mesma hora transcrevi para uma folha de papel o texto de Eisenstein:

"Limite. O encontro de três almas arruinadas pela vida, dentro do limite de um barco à deriva no mar. Duas mulheres, um homem, três destinos. Constantemente limitados em seus desejos e possibilidades, a vida os reúne afinal no mais limitado dos espaços. 
O filme é uma vasta cadência de desespero, angústia, de isolmento, de limitação. Todas as coisas têm ritmo neste filme.
É o ritmo que, em cada sequência, define seus limites. O ritmo explica e interpreta ao longo do filme, marcando o início e o fim de cada aventura.
É o ritmo que define os limites, os quais definem Limite."
S. Eisenstein, 1932.

Evidentemente nunca será possivel uma "contra-prova" desta constatação, já que seu autor há muito se foi. Mas é no mínimo intrigante que um texto dessa natureza tenha ido parar nos arquivos do BFI, sem que a história não fosse verossímel. 
Pelo menos eu sou de verdade e testemunhei tudo pessoalmente. 
Com a palavra, o Sr. Serva para sua defesa.