01 outubro 2007

Não resisti "piratear" o post do sempre ácido, ainda que irônico, Mino Carta, em seu obstinado exercício de traduzir este Brasil, sil, sil, sil (como ele diria). Nem li o artigo que ele menciona (escrito pelo mofado João Mellão no Estadão), pois há muito tempo "cansei" de me deparar com sua retórica retrô. Aliás, Mellão quem?

Mala tempora currunt
Por Mino Carta

Leio, fascinado, um artigo de João Mellão na página 2 de O Estado de S.Paulo de hoje. Orgulha-se de pertencer a uma elite, esclarece que elite significa a nata em cada setor da sociedade, nega, não sem veemência, a dicotomia bom povo-elite má, forjada pela obsessão esquerdista. E assim por diante. Quero deixar claro que este post não é resposta, apenas uma oportunidade para meditar. Pensamentos esparsos, sem maiores propósitos de revelar a verdade. Por exemplo. Aceito o pensamento de João Mellão, e reconheço a presença de uma elite do futebol. Na qual milita o ex-presidente do Corinthians, Alberto Dualib.Não seria elite que manda no seu rincão, graúdo ou miúdo? E este Brasil, grande, notavelmente dotado pela natureza, vocacionado para ser bem sucedido, não deve à sua elite o fato de estar tão mal das pernas? Ou por que entregaram o ouro ao bandido, ou por que eles próprios, os componentes da elite, cuidaram da bandidagem.Os povos são todos iguais, o que mudam são as circunstâncias. As nossas foram criadas por quem? Pelos predadores iniciais e, ao surgir a oportunidade, pelos predadores nativos.E o povo, que tem a ver com isso? Os indígenas foram sistematicamente enganados e dizimados. Não eram tão bons de trabalho, e então vieram os africanos, imigrados, digamos assim, debaixo do sibilar do chicote, e os sinais da escravidão ainda estão presentes. Hoje a maioria é mestiça, e este é o povo brasileiro. Que esperar dele? Que faça por conta própria a revolução?A elite nativa sempre apostou na cordura e na resignação do povo. Sergio Buarque de Hollanda chamava-a, ironicamente, de cordialidade. João Mellão, aplicado representante da elite paulistana em outros tempos definida como quatrocentona, rejeita a dicotomia elite-povo. Difícil escapar a ela, impossível mesmo, sobretudo em um país como o Brasil, tão desigual, um dos mais desiguais do mundo, seus rivais são Nigéria, Serra Leoa, e outros do mesmo porte.Quando da Revolução Francesa, inequivocamente burguesa, incumbiram-se os burgueses de empurrar o povo à Tomada da Bastilha. Os insufladores e organizadores da revolta, pela qual hoje ninguém se queixa, estavam fartos (cansados?) de sofrer as conseqüências da prepotência aristocrática e eclesiástica. Na França dos fins de 1700 os iluministas eram farol nas trevas, mas o país vivia no caos. Falta de autoridade de um lado, miséria e criminalidade do outro. Os nossos burguesotes provincianos estão cansados da miséria e d criminalidade, na qualidade de manifestações populares, e apavorados pela possibilidade de que o povo comece a dar o ar de sua graça. Os burgueses daquela França eram, no mínimo, mais espertos.Alguma mudança está no ar, e é isso que agita a chamada elite à qual Mellão orgulha-se de pertencer. Lula é o primeiro sintoma da mudança. Não estou a analisar o governo atual, de muitos pontos de vista me decepciona, mas o que me parece enxergar transcende a decepção. As vitórias de Lula em 2002 e 2006 me dizem que algo mudou. O povo não se incomoda se o seu candidato está de gravata e terno escuro, formou-se em alguma faculdade e sabe mais de um idioma, e a mídia perde seu tempo na tentativa de propor o tipo perfeito. A mídia, instrumento afiado a serviço da elite, não chega mais.Mala tempora currunt, diria meu pai, Giannino. Para a elite. A qual, além do mais, não sei que características haveria de ter em um país onde apenas 5 por cento da população ganha de 800 reais mensais para cima. Enquanto 0,01 por cento são nababos, andam de helicóptero e Ferrari, moram em castelos, exibem-se o tempo inteiro nas colunas sociais e escondem-se em suas vivendas cercadas por muralhas mais compactas do que as da Roma imperial.O povo não costuma ser bom por natureza. Pelo contrário, a miséria e a indigência são caldo de cultura da ignorância, da violência, da criminalidade. Tais as condições do povo, tão humilhado e espezinhado a ponto de se contentar com o auxilio familiar de escassos reais distribuído pelo governo Lula. Já se definiu a plebe como rude e ignara. De verdade, a definição cabe à perfeição para qualificar a elite brasileira. Quem se orgulha de fazer parte dela, deveria dar-se ao respeito.

Nenhum comentário: