27 agosto 2007

Paraíso Tropical

Goste-se ou não é fato que as telenovelas se tornaram um produto genuíno da cultura brasileira. Seja qual for a classe social, milhões de pessoas (de donas-de-casa a socialites, de formadores de opinião a moradores de favelas) já ficaram grudadas na telinha acompanhando momentos eletrizantes nas mais diferentes tramas já abordadas. Eu que testemunhei em "Beto Rockfeller" nos anos 60, considerada um marco na telenovela moderna - diferentemente do padrão dramalhão mexicano - com início do enfoque social como temática, destacaria "Vale Tudo", de Gilberto Braga e "Páginas da Vida" de Manoel Carlos, como dois exemplos de tramas muito bem estruturadas e desenvolvidas. Cada qual ao seu feitio de seus autores. Na Folha (só pra assinantes) deste domingo, 26/08/07, há algumas opiniões sobre "Paraíso Tropical", novela que atualmente ocupa o horário nobre da Globo. Mas o que mais me chamou atenção, foi a análise do psicanalista Tales Ab´Sáber, que diz: " Creio que se comenta aí o estado de moratória social e de crise de orientação das elites, que têm um mal-estar com o fato de estarem condenadas ao país degradado no qual vivem em pleno benefício, além de se sentirem punidas com a estagnação histórica do país, que elas mesmas promoveram."
Pois é, penso ser exatamente esta a grande vingança em torno de tais elites. A grande armadilha em contagem regressiva que julgavam estar imunes, vivendo encasteladas indiferentemente à falência de Brasil mais justo e próspero socialmente. E menos mesquinho.
Isto torna ainda mais escandalosa (e cara-de-pau) a inciativa dos fundadores (e seguidores) do movimento Cansei. Como se a realidade que gera indignação de seus idealizadores e defensores fosse algo que tivesse surgido sem a legítima participação destes no estado de coisas em que se tornou o Brasil. É quase um Teatro do Absurdo onde atores e platéia parecem não se dar conta do ridículo que tal encenação provoca aos mais atentos à história do Brasil dos últimos 40 anos. Onde paraíso tropical passou a ser metáfora para um Brasil como nação do futuro - mas somente aos bem "colocados". Eis aí a grande piada. Não percam os próximos capítulos. Quem viver, verá.

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