16 fevereiro 2007

Eu não sou otário

Ontem senti na pele o quanto neste país a palavra cidadão só existe mesmo nos dicionários da língua portuguesa.
Tendo que resolver o assunto "renovação de carteira de habilitação", percebi que graças à famigerada questão da burocracia, um dia de cão estava à minha espera.
Primeiro soube - dias atrás - que por morar em Atibaia, mas tendo minha carteira originalmente emitida em São Paulo eu teria que optar por transferir o documento ou fazer a renovação em São Paulo. Segundo, que isto incluiria também a necessidade de que o exame médico (!!!) também fosse no mesmo local onde a carteira será renovada.
Aproveitei o final de um trabalho e decidi dormir em SP para que no dia seguinte fizesse o périplo como um simples cidadão. Sem os já manjados serviços de despachante - este ser que, tal qual o ambiente de cartórios se beneficia de nomeações, credenciamentos e certas maracutaias.
Manhã ensolarada anunciando um dia de calor infernal, lá fui eu ao local do exame médico. Taxa de R$ 47,00 para um exame de uma banalidade absurda. O médico parecia uma múmia, mas como não fui reprovado no quesito visão (apesar de que em exames anteriores ter sido recomendado uso de óculos para mim), acabei até contando piadas para o Dr. Mabuse (como o filme de Fritz Lang). Essa história de exame médico credenciado deve ser também uma tremenda boquinha com vantagens a quem credencia e quem é credenciado. Já imaginou um local que só lá o exame é aceito e reconhecido pelas autoridades do município. Imaginem quantos motoristas tem em SP e quantas destas biroscas?
Sai de lá e fui direto para este verdadeiro templo de desconfiança onde o fedor da corrupção é sentido em cada corredor, guichê ou balcão: o Detran.
O objetivo da minha missão era marcar a prova escrita para (juntamente com o exame médico) me dirigir então com os resultados na mão ao Poupatempo num outro dia.
Ao me dirigir ao balcão de informação sobre marcação da prova escrita, a atendente (uma negona até simpática com olhos daqueles em que a pálpebra fica bem abaixo da linha da pupila, o que transmite uma sensação de calma ou preguiça, dependendo de como ela te trata) logo foi dizendo que, como eu tinha uma pontuação de falta gravíssima (7 pontos), eu não poderia marcar a prova escrita e sim teria que me dirigir ao setor de pontuação. Porém, ela me alertou para que eu não entregasse minha carta lá, pois corria o risco de tê-la apreendida (renovação com pontuação). Veja só o ambiente acolhedor em que o reles cidadão é envolvido.
Chegando no quarto andar, entro na sala de pontuação e pego uma senha de número 661, sendo que no painel o número da vez mostrava 660. Nada mal, a sala quase vazia. Enquanto eu esperava minha chamada, duas plaquetas alertavam a proibição (!!!!!!!) de se entrar no local reservado trajando bermuda, camiseta regata e boné (!!!!!!!). Resquícios inconfundíveis dos tempos da ditadura. Sim por que, eu pergunto, qual o problema de alguém estar usando um boné ????? Isto é desrespeito ????? Para não me considerar implicante tirei o meu e via que várias pessoas - na maioria homens - paravam nos tais guichês sem porra nehuma de senha e conversavam ou pediam informações aos atendentes. Após alguns minutos (20 talvez?) de espera, um cara que passava disse me olhando: " É uma boa você chegar até o guichê, pois nem sempre eles chamam a pessoa". Hummmmm sei sei...que merda hein?
Quando me aproximei a um dos 3 guichês, uma senhora mal encarada pra caramba, perguntei se a senha valia alguma coisa. Ela respondeu que "depende...já estava quase no final do expediente. Me atendeu mal pra caramba e o resultado foi de que eu precisaria escrever uma defesa e só então saberia do delegado o veredictum. E a prova escrita? Ahhhh isso só depois de resolvida a defesa. Talvez você tenha que fazer o curso de reciclagem.
Saí de lá atônito e ainda atordoado liguei para um....despachante que conhecia de SP. O cara do outro lado da linha passou o preço do servicinho da defesa: R$ 1.500,00. E ainda disse que era assunto melhor para conversar pessoalmente. Certo...disse eu.
Liguei em seguida para o...despachante de Atibaia que achou um absurdo isso e me assegurou que lá o serviço era sem esta obscenidade de cobrança.
Resultado: farei a renovação via Atibaia e para isso terei que transferir minha carta. Detalhe: nada me garante que o exame médico que fiz tenha validade no outro município - apesar das camaradagens locais.
Realmente é uma bosta ser cidadão neste país.

5 comentários:

Sônia Guimarães disse...

Afonsooo, a historinha acabou ficando grande, na metade eu já passei a ler 'correndo', saca? hahaha... Tudo bem, entendo que tá do tamanho da sua indignação. Fiquei curiosa: qual a falta gravíssima que você cometeu ao volante, e que te custou 7 pontos na habilitação? E fiquei preocupada: há um erro de RG na minha carteira de motorista e eu TAMBÉM vou ter que encarar o Detran. Bjão.

Afonso, Débora, André & João Pedro Family disse...

Sônia, a falta foi de velocidade máxima ultrapassada (provavelmente mais de 20% do limite)

Kelly® disse...

afffff, que merda, heim?! a minha renovação vai ser no ano que vem :/

Afonso, Débora, André & João Pedro Family disse...

Kelly, até lá tem tempo :D

Unknown disse...

Afonso...
Sou Despachante em Atibaia, e muito me entristeceu o seu post (história), pois em seu comentário, vc faltou com o respeito com os despachantes (corretos como eu), mostrou-se racista e uma pessoa que cometeu uma infração de trânsito de velocidade ACIMA de 50% do permitido!!!
Não vou fazer propaganda, mas aqui em Atibaia, os honorários de qualquer despachante, para atender o seu serviço seria por volta de R$ 45,00.
Isso vale o seu dia de estresse???